quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

População de rua cresce e preocupa moradores de Icaraí e Boa Viagem


Famílias acampam nos bairros e levantam residências nas calçadas, que possuem até eletrodomésticos. Devido ao forte calor do verão, praias são utilizadas como refúgio

Famílias acampam em Icaraí e Boa Viagem
e “residências” nas calçadas possuem televisão, 
móveis e fogão. Foto: André Redlich


O aumento do número de moradores de rua em Icaraí tem preocupado quem vive no bairro. Relatos revelam que muitos chegam a ter estrutura de “casa”, com móveis e eletrodomésticos espalhados em calçadas. Devido ao forte calor do verão, locais como o Campo de São Bento e as praias da Baía de Guanabara – Icaraí, Flechas e Boa Viagem – são utilizados como refúgio durante o dia, mas à noite, de madrugada e pela manhã, bem cedo, é comum ver famílias se abrigando embaixo de marquises. 
Uma moradora que não quis se identificar afirma que as ruas General Pereira da Silva e Tavares de Macedo têm servido de moradia para famílias inteiras. A situação se repete na Praia das Flechas, na altura da pedra de Itapuca, onde os moradores de rua possuem até fogão, e na Praça Raul de Oliveira Rodrigues, no Largo do Marrão, cujo palco coberto é transformado em “cabana” e moradores assistem televisão.
“É uma questão de assistência social e ordem pública. Durante a madrugada estes moradores de rua causam tumulto e brigam, acordando a todos. A falta de higiene surpreende quem passa, sem contar com a sujeira que essas pessoas deixam após sair do local. Sem o menor pudor fazem sexo ali mesmo, em frente aos prédios residenciais”, conta a moradora. 
De acordo com a Secretaria municipal de Assistência Social, aproximadamente 250 pessoas vivem em situação de rua efetiva em Niterói. Voltado para esse quadro, o órgão tem em seu efetivo o grupo de abordagem do Centro de Referência Especializado para População de Rua (Crepop), composto por psicólogo, educador social e assistente social, cujo trabalho consiste em oferecer os serviços existentes na assistência social da cidade. No entanto, a administração destaca que o indivíduo, por livre e espontânea vontade, tem que aceitar a ajuda social. 
Quanto às estruturas que são montadas nas calçadas, a secretaria municipal de Segurança e Controle Urbano afirma que tem feito operações pontuais mediante as denúncias e, inclusive, esteve semana passada na Praia das Flechas. 
Difícil trabalho de convencimento

Por se tratar de um trabalho de convencimento, a Secretaria de Assistência Social destaca que nem sempre é possível encaminhar esses moradores de rua aos abrigos ou ao convívio familiar. 
 “A maioria das pessoas em situação de rua recebe com resistência o trabalho realizado pela equipe e retarda o acolhimento. Todo o processo de aceitação é lento e gradual e a equipe de abordagem passa diariamente, em diversos turnos, em vários logradouros da cidade”, explica a administração da secretaria, por nota. 
Uma das etapas do serviço é a triagem, onde a pessoa em situação de rua procura por espontânea vontade ou por orientação da equipe de abordagem o Crepop. No local, são oferecidos serviços como o acolhimento. Ao aceitar os serviços, o histórico familiar e social desta pessoa é estudado e a partir deste ponto é iniciado um trabalho de reinserção.
“É importante ressaltar que a Secretaria de Assistência Social não trabalha com a retirada compulsória de pessoas em situação de rua, e sim com medidas de reinserção desses indivíduos às suas famílias e sociedade. Todo o processo de capacitação e reinserção familiar e social é acompanhado, pois a secretaria acredita que tais medidas ajudam a evitar que essa pessoa volte às ruas”, conclui a nota da pasta. 
Segundo a conselheira tutelar do 1º Conselho de Niterói, que atende o Centro e a Zona Sul, Kátia Santa Rosa, a maioria dos moradores em situação de rua na cidade é composta por adolescentes e adultos. As denúncias sobre jovens e crianças em risco podem ser feitas através do disque 100. 
“O número de crianças nas ruas é reduzido. Constatamos que a maioria das pessoas são de outros municípios”, diz a conselheira, afirmando que o isolamento da fachada do Cinema Icaraí com tapumes reduziu o número de moradores de rua no bairro, que migraram para o Centro. 

O FLUMINENSE

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