domingo, 11 de novembro de 2012

Cracolândias invadem várias regiões de Niterói


Cracolândias invadem várias regiões de Niterói


Por: Daniel Braga 11/11/2012

Número de locais utilizados por usuários de crack e outras drogas no município apresentou um crescimento gigante nos últimos quatro anos. População se preocupa


Especialista diz que crack devasta a vida não apenas do usuário. Todas as relações sociais do indivíduo são afetadas. Foto/Arquivo

Especialista diz que crack devasta a vida não apenas do usuário. 
Todas as relações sociais do indivíduo são afetadas. Foto/Arquivo





 
Na quinta-feira, por volta das 21h, era possível flagrar ação de compra e venda na 
Rua Professor Heitor Carrilho, no Centro. Foto: Leo Fonseca
 
O número de locais utilizados por usuários de crack em Niterói aumentou nos últimos três anos. Em 2009, um levantamento feito pela própria Prefeitura indicava a existência de cinco áreas por onde esses indivíduos transitavam, porém, atualmente, essa quantidade já teria sido ampliada. “Hoje, no Centro, esse pessoal se aglomera entre as ruas Visconde do Uruguai e Marquês de Caxias; bem como na Rua São João, entre as ruas Visconde do Uruguai e Barão do Amazonas. No bairro de São Lourenço, ficam entre as ruas Santo Antônio e Presidente Castelo Branco. A questão demanda a criação, o quanto antes, de um espaço de referência para tratamento dos dependentes da droga”, apontou o presidente do Conselho Comunitário de Segurança, Leandro Santiago.
Há três anos, a análise do Município já indicava que os usuários e dependentes de crack se concentram, por vezes, na Rua Dr. Fróes da Cruz, por trás da rodoviária; uma localidade entre o Terminal João Goulart e um shopping; na Praça JK, localizada na Rua Visconde de Rio Branco; no acesso da Rua Professor Ernâni Pires de Melo, em São Domingos; nas proximidades da Rua Joaquim Távora, em Icaraí; além da entrada do Túnel Raul Veiga, ligação Icaraí com São Francisco.
Na noite de quinta-feira (8), por volta das 21h, era possível flagrar uma ação de compra e venda da droga na Rua Professor Heitor Carrilho, no Centro. Diante de denúncias de moradores e comerciantes sobre a circulação de usuários de crack pela região, o 12º BPM (Niterói) já reforçou também o patrulhamento na Rua Professor Joaquim Costa Ribeiro, próxima da localidade; entre as ruas Tavares de Macedo e General Pereira da Silva, bem como na junção entre a Comandante Miguelote Viana com Avenida Roberto Silveira, em Icaraí; e no entorno do Instituto Vital Brazil.
“O crack é uma droga devastadora no corpo e na vida não apenas da pessoa em questão. Todas as relações sociais envolvendo esse indivíduo são afetadas. Desde o que acontece nos círculos privados, como família e amigos, no contexto das relações no espaço público, nas ruas, escolas, locais de trabalho, até nas relações mais extensas, como tráfico local, redes internacionais, etc”, explicou Fernando Cardoso Lima Neto, professor do Departamento de Sociologia da PUC-Rio.
Segundo a Prefeitura, o serviço de abordagem de pessoas em situação de rua, que também se acumulam nessas regiões, não identificou a efetiva existência de cracolândias nessas áreas. As alegações são sustentadas, ainda, por estatísticas de atendimento da Secretaria de Assistência Social, pelas quais 60% dos acolhidos pelo órgão em Niterói utilizariam álcool e/ou outras drogas, sendo predominante o uso abusivo de álcool e em segundo lugar maconha e solventes (tinner). 
“Na população de rua, o uso de crack é mais reduzido, pressupondo que isso se deve ao fato da implementação conjunta de políticas públicas pela Saúde e Assistência Social”, destacou a assessoria do Município.
Tratamento - Para o atendimento aos usuários de álcool e outras drogas, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) esclareceu que o órgão conta com o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Alameda, o Centro Psicossocial Infantil (CAPSi) Monteiro Lobato, uma Equipe de Referência Infanto-Juvenil para Ação e Atenção ao uso de Álcool e outras Drogas (ERIJAD), um consultório de rua, seis ambulatórios de saúde mental, Emergência Psiquiátrica e 12 leitos de internação especializada no Hospital Psiquiátrico de Jurujuba.
Apenas no Caps da Alameda, a SMS contabiliza 2.237 pacientes cadastrados tendo, em média, 470 pacientes em atendimento mensal. O Centro é integrado por uma equipe com médicos, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiro e técnicos de enfermagem, que assiste adultos em situações de maior vulnerabilidade social. Já o Hospital Psiquiátrico de Jurujuba (HPJ) auxilia as ações com uma emergência 24h, onde são avaliados os casos de internação com necessidade de enfermaria especializada para acompanhamento do quadro de dependência química fora do momento clínico agudo. 
Para atendimento nos hospitais, a Secretaria pactua a implantação de leitos no Hospital Municipal Getúlio Vargas Filho, Getulinho, e Hospital Municipal Carlos Tortelly, com o objetivo de dar atenção às pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas.

Cidade não tem internação compulsória
Em Niterói, a política pública para abordagens de usuários e dependentes de drogas não contempla a internação compulsória, medida considerada juridicamente polêmica. “Há quem diga ser inconstitucional, mas eu não vejo assim. Estamos falando de dignidade humana e a lei permite ao Estado proteger o indivíduo mesmo que seja contra ele mesmo”, opinou o presidente da Comissão do Movimento Brasileiro Contra a Violência da OAB-Niterói, Ennio Pratolezi de Figueiredo Júnior.
“Agora, é preciso haver tratamento com infraestrutura, médicos, psicólogos, profissionais adequados para reintegrar essa pessoa ao convívio social. Não pode ser uma justificativa para limpar as ruas. É preciso ter um estudo identificando usuários e dependentes, um mapeamento embasado do problema. Um viciado encontra-se em uma situação nefasta, pode cometer crimes graves, por isso, deve ser tratado para não precisar ser preso no futuro”, acrescentou o advogado criminalista.
Para o vereador Renatinho (PSOL), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal, a política de enfrentamento das drogas deve ser reforçada como uma questão de saúde pública. “Niterói mantém uma rede de saúde mental com ótimos profissionais, mas ainda em quantidade reduzida. Mesmo as pessoas que procuram ajuda têm dificuldade de encontrar tratamento porque a rede ainda é insuficiente”.
“Sem a ampliação da rede de atendimento e tratamento não há nem que se cogitar a possibilidade de internação compulsória e a privação de liberdade para uma pessoa doente. É uma agressão aos direitos humanos”, completou o parlamentar.

Moradores denunciam
“Duas pessoas foram assaltadas por usuários de crack na Vital Brazil esta semana”. Esta é a denúncia de um dos moradores do bairro, que como os demais moradores, estão apreensivos com o aumento da violência por parte deste grupo de pessoas que ficariam abordando pedestres e moradores do local. De acordo com os moradores, os assaltos ocorreriam nas ruas próximas à praça do bairro, como por exemplo, na Rua Souza Dias, à altura do ponto de ônibus. 
“Os usuários encontram na falta de policiamento a oportunidade de nos atacar para conseguir o dinheiro a fim de comprar drogas para consumo próprio”, diz uma moradora.
“O centro deles é a praça, mas os assaltos ocorrem nas ruas em redor, principalmente nos horários da tarde e da noite. Trabalho aqui há sete anos e sempre ouço as mesmas histórias de assaltos”, Osmarino Eduardo, porteiro. Ele ainda acrescentou que o policiamento estava mais constante há até duas semanas atrás, mas de um período para cá teria sumido. 
“Deveria sim ter uma fiscalização, um patrulhamento policial mais permanente, pois ficamos muito vulneráveis”, Juçara Cunha, professora.

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